João Galamba. Fonte: Notícias ao Minuto

As “ligações perigosas” do Estado Burguês

Rebentou mais um escândalo no governo: descobriu-se agora que a esposa do ministro das Infraestruturas João Galamba foi “mobilizada” para trabalhar no Ministério das Finanças. De acordo com o ministro (das finanças!) a esposa do colega não foi nomeada, mas “mobilizada” (através do “regime de mobilidade”) da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (entidade supervisora da Bolsa de Valores) para um cargo no Ministério das Finanças que, há mais de um ano, espera por preenchimento através de concurso público.

O próprio ministro das Finanças, Fernando Medina, também é um homem casado e (julgamos) bem casado com um ex-assessora jurídica da TAP que ganhava quase 10 mil euros mensais numa época em que a companhia somava prejuízos de (centenas) de milhões! Por falar na TAP, a esposa do antigo ministro da tutela, Pedro Nuno santos, também chegou a estar na berlinda, quando se descobriu que era a chefe de gabinete do (então) secretário de Estado Duarte Cordeiro. Ora Duarte Cordeiro que, entretanto chegou a ministro do Ambiente, também é outro homem casado! Casado com Susana Ramos que trabalhou na CM Lisboa quando o marido era vereador e que, quando este transitou para o governo, foi “promovida (ou “mobilizada”?) para gerir o Fundo para a Inovação Social. Quem também aparenta ter um casamento coeso é a ministra da Coesão, cujo marido é empresário, beneficia de fundos comunitários e é (foi?) sócio dum sr. chinês envolvido em vistos gold e corrupção.

Estas “ligações perigosas” repetem-se e perpetuam-se. Nos anteriores governos de António Costa chegámos a ter 2 ministros casados (Eduardo cabrita e Ana Paula Vitorino) e um pai ministro e uma filha secretária de Estado (o António e a Mariana Vieira da Silva). Mas recuando ainda mais no tempo e passando para o campo da direita, como não lembrar os governos de Cavaco Silva onde, não indo escavar outros exemplos “menores”, as esposas dos então ministros Dias Loureiro, Fernando Nogueira, Marques Mendes ou Arlindo Cunha encontraram poiso, trabalhando em diversos ministérios dos colegas dos maridos? Ou como esquecer que a Maria Cavaco Silva foi contratada pela Universidade Católica depois do marido ser primeiro-ministro, que a filha lucrou dezenas de milhares com ações do falido BPN ou como o genro comprou o pavilhão Atlântico (sem concurso público), com dinheiro emprestado por Ricardo Salgado e a publicidade (generosamente) paga pela MEO?

Todos estes “casos e casinhos” não são fruto do pecado original, da natureza corrompida do ser humano ou duma qualquer idiossincrasia do mezzogiorno europeu: eles são consequência da natureza burguesa do Estado – um estado que serve os interesses do capitalismo e que se encontra capturado pelas suas clientelas políticas que, servindo os interesses das classes dominantes, servem-se também das suas posições para acumular sinecuras, prestígio, poder e fortuna. Porque é da natureza, não das almas, mas das concretas relações sociais existente que os políticos burgueses outra coisa não aspirem, senão imitar e ascender à classe dirigente – cujos interesses servem.

É das relações íntimas (tantas vezes ocultas e outras nem por isso…) entre Estado e capitalistas, dos fundamentos, da natureza, da conceção dum Estado burguês que afasta e exclui os trabalhadores e o povo da fiscalização, da participação e da gestão da coisa pública (limitando-se as massas a escolher de 4 em 4 anos qual das fações burguesas as irá explorar) que nasce e medra a corrupção – que num país atrasado essa corrupção seja apenas mais visível, ostensiva ou até disseminada,  apenas nisso se reflete a fraca racionalização e eficiência do Estado burguês que, na sua essência (repetimos!) é ele próprio corrompido pela sua natureza de classe.

A crítica moral apenas reforça a verborreia populista de quem hoje grita “vergonha” e amanhã será ministro promovendo negócios, “mobilizando” parentes e lesando os trabalhadores. É contra o Estado burguês e não apenas contra este “estado de coisas” que deve lutar uma esquerda combativa e revolucionária.

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